30.12.16

Um Rio, muitos Rios

Rio de Janeiro todo mundo sabe, é uma viagem. Setembro passado estive lá. Fui a lugares diferentes e vi Rios diferentes também. Não há como não ter uma síncope de vontade de sair registrando tudo, muita coisa interessante, muita intensidade pra tudo que é lugar que a gente olha, uma doideira. Na partida em Curitiba já dei de cara com uma prancha de surf, parece que adivinhavam meu destino, corri pro caderninho pra registrar a cena. Escala em São Paulo, tudo bem, garoa vista do alto é bonita, e aquele mar cinza de prédios também é bonito visto das alturas, e dá-lhe caderninho com caneta preta, sépia e cinza.


A melhor coisa pra se aclimatar bem ao lugar que acabou de chegar, é tomar umas no bar mais agitado do local. Botafogo estava fervendo, uma festa, fui lá conferir e bater um papo animado enquanto fazia uns traços.



No CCBB estava rolando uma exposição com quadros impressionistas, nossos ancestrais, rs, não podia perder. Acabei indo duas vezes. Na primeira me distraí desenhando e tive que voltar pra olhar direito a exposição toda. Fiz uns sketches e não fui reprimido pela segurança, vai ver não tinham nenhuma orientação para gente que desenha. É um perigo esse pessoal que anda com tintas na bolsa.

Tentando reproduzir, de pé, Cézanne e Émile Bernard


Embalei com os impressionista e fiquei com o diabo na caneta, fui devorando com meu caderno as paisagens e cenas que fui vendo ao longo dos dias. Aí embaixo um trio de forró. O desenho nem ficou tão bom, mas a cara que eles fizeram quando mostrei pra eles, afe, devia ter uma foto disso. Foi demais! O trem também deu samba, principalmente pela vendedora de amendoim em cones de papel, um clássico carioca.


O metrô também estava mais diversificado naqueles dias, tinha a turistada das Paralimpíadas que trouxe para o transporte público um pessoal que não se costuma ver. Nesse desenho que ficou só no grafite, o casal mais idoso da esquerda com roupas de turistas, o casal do meio, quase fazendo sexo, ia com as pernas trançadas, e a moça à direita carregada de bolos e quitutes que me deixaram esfomeado. Que cena amigos, que cena.



O senhor turista mereceu um segundo retrato. Camisa listrada era um convite à experimentar uma linguagem de desenho que ando perseguindo. Um passageiro ao meu lado que me viu retratando o cara me diz: - mostra pra ele, acho que ele vai gostar. Recusei, minha experiência diz que isso não é legal. Se os santos dos sketchers fizerem esse encontro acontecer, beleza, é pra ser. Mas forçar, nunca!



Uma das coisas que mais me empolga são novos desafios de desenho e da aquarela. Pintar cenas noturnas é sempre empolgante, e também frustrante em muitos casos. O cenário aí desenhei num pontinha de banco da praça, único disponível. Tentei ser meio Miha Nakatami, mas como não fiquei feliz com o resultado refiz o desenho novamente, logo depois, em casa, sem o pressa anterior.


Os bairros suburbanos do Rio guardam muitos tesouros que o turismo oficial não mostra. Principalmente os bairros que são servidos pela linha do trem da Central. Marechal Hermes é um deles, a decadência geral não consegue ocultar totalmente o tempo de glória que viveu.



Ah sim, claro, fui lá na Paralimpíada gritar praqueles campeões, imperdível.



Domingão, dia de prestigiar o USK Rio no Quadrado da Urca, lugar incrível, fiz dois desenhos. O primeiro foi pro fundo da Baía da Guanabara de tão ruim que ficou. Tenho dó dos peixes e das cracas que viram aquilo. O segundo, ufa, me redimi um pouco. Talvez tenha sido a marola de maconha que esse figuraça deixou no ar que tenha me inspirado, talvez tenha sido só coincidência e a sorte, que acompanha a quem persiste.

Mas chega de conversa né. Voltei à cidade curitibana com mais um desenho de avião. Cena de aviões não são fáceis pra mim. É meio previsível o que se desenha, sei lá, tava difícil. Mas aí achei um pé e do pé surgiu o desenho. Lembrando aquele velho provérbio que diz: - putz.. esqueci. 




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