21.5.15

Espaços públicos e privados

Prefiro fazer, sempre que possível, meus deslocamentos a pé. A percepção do ambiente construído, sem a mediação do automóvel, ou a velocidade aumentada de qualquer outro meio, é muito mais intensa para o pedestre.
Quando, ainda, o caminho é rotineiro e bem conhecido, procuro variar o percurso, buscando desvios e caminhos alternativos. Muitos dos desenhos que faço, principalmente nas cidades que frequento, repletas de paisagens habituais para mim,começam por um percurso deste tipo.
Nesta busca por percepções renovadas, sinto especial interesse por locais nos quais percebo uma ruptura do traçado urbano habitual. A rigidez com que são delimitados o espaço público, separado, sem transição, do espaço privado dos edifícios por muros ou grades, torna-se, nesses locais, um livre jogo de conceitos espaciais habitualmente estanques.


Nesta, que é uma das casas de um conjunto de três (Rua General Osório, em Santa Bárbara d'Oeste- SP), não há, como nas demais, muros separando-as da rua. Um escada dá acesso a um piso elevado, que serve como espaço de transição da casa para a rua. Enquanto desenhava, um funcionário do supermercado em frente saiu do depósito, subiu a escada à esquerda e alimentou, com verduras vencidas, as galinhas que são criadas na laje, sobre a garagem.



Percorrendo a Rua Osny Martins Cruz, me deparei, em seu trecho final, com uma rua sem saída. À esquerda, descobri um pequeno beco, bloqueando com elementos de aço a passagem de motocicletas. Durante as duas horas que levei para fazer este desenho, muitas pessoas utilizaram este beco como passagem.


Dias depois, voltei ao local e atravessei o beco, para desenhá-lo do outro lado. A impressão que se tem é a de, ao entrar no quintal de uma das casas, encontrar uma rua, repleta de crianças jogando bola, pulando corda ou amarelinha.



Há ainda este tipo de ocupação, sempre informal, com alguns melhoramentos (o mínimo necessário, acredito) trazidos pelo poder público. Em zonas limítrofes, quase sempre encontro pequenas praças arborizadas pelos moradores. Aqui, trata-se de uma rua sem saída (Rua Francisco Godoy de Camargo, em Santa Bárbara d'Oeste- SP), uma das últimas de um bairro interrompido pela Rodovia Luiz de Queiroz, que aparece ao fundo.

Um comentário:

  1. Fico impressionado de ver como você transforma o banal em algo especial com seu talento. Muito bom Flávio, parabéns!

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