12.8.15

Desmaterializando o uso do termo código [de barras]


"Código de barras é uma representação gráfica de dados numéricos ou alfanuméricos. A decodificação (leitura) dos dados é realizada por um tipo de scanner - o leitor de código de barras -, que emite um raio vermelho que percorre todas as barras. Onde a barra for escura, a luz é absorvida; onde a barra for clara (espaços), a luz é refletida novamente para o leitor. Os dados capturados nessa leitura óptica são compreendidos pelo computador, que por sua vez converte-os em letras ou números humano-legíveis".

Definição presente no Wikipedia


"A definição de um código de barras pode ser reduzida a uma fórmula: A=2,5B, condicionado à alteração constante dos cheios seguintes aos vazios (embalados à vácuo). É também uma definição esquemática do bosque, da imagem na janelinha do trem, da ilusão do cinema, dos ritmos e cadências de uma definição ou de uma camuflagem".

Willy |Müller, no Diccionario Metápolis de Arquitectura Avanzada (Ciudad y Tecnologia en la Sociedad de La Información). 

Vista desde o interior do restaurante Oiticica (excelente Projeto do Rizoma Arquitetura) . Brumadinho/MG

Recentemente, uma breve experiência visual e pictórica em Inhotim [Brumadinho/MG] me lembrou e me fez avançar em algumas das minhas lições em sala de aula. Essa, em especial, acerca do uso do termo código de barras no léxico da produção arquitetônica recente. Desde o período da produção arquitetônica referendada como maneirista seria possível pinçar um ou outro exemplo de um conjunto rítmico de uma colunata, e que passando por uma sequência de frisos art decò ou por variações de esquadrias ou brises modernistas, teríamos possíveis exemplos de composições razoavelmente próximas ao uso empregado pela terminologia escrita contemporânea.

Em uma bela tarde ensolarada ao almoçar no Restaurante Oiticica, mesmo com filas estratosféricas, senhas para almoço, esperas descomunais, especialmente nesse dia... eu aparentemente não me incomodei com nada. Fato inusitado. Com boa companhia e um sketchbook aliado a algumas hidrográficas e aquarelas... bastou sentar na mesa do almoço diante dos brises do salão voltados para um dos lagos do complexo e ter a oportunidade de mais uma vez desenhar. Bom almoço e desenho, combinação interessante, não sendo perfeito por causa da quantidade de pessoas.

Desenhei! Desenhei os brises e o espaço entre os mesmos. Claro, um código de barras... como sempre. Não me incomodei com nada, mas em dado momento estranhei o fato de que eu já havia estado ali algumas diversas vezes, tinha visto os brises móveis diversas vezes, mas não tinha me "atinado" de que ali, com aqueles brises móveis metálicos enormes, perfurados e em grafite..., (e também quando no caso de coloridos e sobrepostos), me permitiam ver e "sobre-ver" diversas paisagens humanas, naturais e atmosféricas, sem necessariamente as esconder em qualquer ponto. Desenhei os espaços entre eles e os espaços entre as sobreposições deles e, se permitido fosse... desenharia os micro espaços existentes neles mesmos.

Os brises naquele caso me dizem que o conceito de código de barras, termo tão usado pela produção arquitetônica recente e falada/escrita, precisa ser revisto. Na melhor das hipóteses, entendê-lo apenas metaforicamente, e não necessariamente as construções ou elementos arquitetônicos em si. Com o aumento das sobreposições das transparências e das micro visualizações permitidas com a riqueza e variedade de uso de materiais também mais comuns aos dias de hoje, avançamos perceptivelmente (fenomenologicamente) a outras possibilidades de fruição muito mais amplas do que muitas análises e categorias permitem enquadrar. 

Enfim, com um pouco de cautela e acuro perceptível, fenomenologicamente é possível desmaterializar a noção código de barras na produção escrita/falada da arquitetura contemporânea.

André Lissonger

  

3 comentários:

  1. Adorei o texto, nunca tinha tido contato com o termo. Um abraço André!

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  2. Muito obrigado pelo comentário Bruno! Abração!

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  3. Muito feliz ao ler sua contribuição. O "código de barra" como metáfora para determinadas composições arquitetônicas é interessante. A metáfora talvez não inclua o conceito de ritmo tão valorizados nas obras.
    Outra metáfora de interesse especial dos designers da informação, é a idéia da cidade como um diagrama de "circuito elétrico", tendo como epítome o mapa de metrô de Londres.

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