28.3.17

RUA AVANHANDAVA - 104. ENCONTRO URBAN SKETCHERS SÃO PAULO

Desenho como ficou do último domingo, 26 de março de 2017, ao final do encontro Urban Sketchers São Paulo .. Foi a esquina da Rua Avanhandava em frente à Pizzaria ...

17º Encontro USK Fortaleza - Mercado dos Pinhões


Nesse último sábado, dia 25/03/2017, realizamos nosso 17º encontro aqui na capital cearense. Sobre essa edição deixo aqui o fantástico texto do sketcher Fabrício Porto e, logo abaixo, os desenhos da(o)s querida(o)s USKs cearenses. Valeu demais, galera! 


ANALISTAS DE MERCADO

Salvo pelos contornos elevados de edifícios à distância, o entorno do Mercado dos Pinhões lembra uma singela praça do interior nordestino, mesmo com aquela arquitetura de época, importada, no meio. Passantes pacatos, de lá para cá resolvendo questões de seus comércios ou residências com vizinhos receptivos, vendedores de frutas, um ciclista ou outro, árvores com vira-latas à sua sombra e muito pouco do nefasto ruído urbano das grandes esquinas aldeotinas*. Foi este o cenário do 17º encontro do Urban Sketchers Fortaleza: uma bucólica atmosfera interiorana.

Dezenas de desenhistas urbanos, espalhados em frente à estrutura metálica como muçulmanos na Meca chamavam a atenção dos transeuntes habituais, talvez pouco acostumados àquela atenção toda ao objeto central da praça, o mastodôntico coreto verde, capaz de abrigar tanto carnavais como feiras de fruta. 'Estão desenhando', ouvia-se ao pé do ouvido entre pares no comércio próximo, como quem identifica um saber enigmático. 'São artistas', sentencia outro, conferindo caráter demiúrgico aos desenhistas. Indiferença é a única postura não percebida pelos que ali observavam a cena.

A boa arquitetura é magnética. Nenhum dos desenhistas ousou desenhar outra coisa que não fosse o próprio mercado. Salta aos olhos, principalmente estando inserido num entorno de fachadas improvisadas e muros de terreno baldio. Para lá viraram-se os olhares, para geometrias circunscritas umas dentro das outras, para o ritmo das finas colunas, para os vidros gema e lilás que brigam com o verde desbotado do conjunto, para a transparência das grades que revelavam o outro lado, para o arremate triangular apontando os céus. Numa só peça, assentada com os devidos recuos que a permitam respirar visualmente, incontáveis detalhes fazem os desenhistas dedicarem o tempo de Zeus, o tempo contemplativo, das horas eternas, que passam na mente, para decifrá-la.

O redator desta crônica de um dia atípico naquele fragmento urbano não desenhou o mercado. Por teima ou por não ter bom ângulo a partir de onde tomava uma cerveja salvacionista naquele momento de calor insurpreendente, desenhou a praça em frente ao mercado, representando deste apenas uma única coluna, para fins de contexto. A boa conversa, as digressões sobre o desenhar e a ocupação da mão pelo copo estenderam o desenho por mais tempo que o habitual. Junto à saciedade da cerveja agressivamente gelada e da companhia dos parceiros de ofício, a satisfação de registrar uma janela de tempo agradável em foto, em texto e em desenho.

* Referente à Aldeota, bairro fortalezense conhecido, entre outras coisas, pelo intenso fluxo viário.

Fabricio Porto, 25 de março de 2017.

























27.3.17

OS LUGARES SÃO PESSOAS...



Por Adriana Dantas Nogueira (correspondente USK Aracaju) – 22-março-2017
 

Ao sair de férias este mês descobri que um lugar pode ser comparado a uma pessoa.

Conheci um dos lugares mais bonitos do planeta, mas também tive um sentimento de perda, ao saber, depois de um dia de meu retorno a cidade em que moro, que esse lugar não mais existia... Nem eu nem mais ninguém o verá... como se ele tivesse falecido, como quando uma pessoa muito querida vai embora para sempre.

Isso ocorreu em Malta, um pais adorável formado por 3 pequeninas ilhas no mar mediterrâneo, bem abaixo da ilha da Sicilia (Itália), que com certeza mais gente já ouviu falar dela. Contudo, Malta tem uma história incrível de milhares de anos! Podemos encontrar templos datados do período de antes da construção das pirâmides do Antigo Egito!

A ilha maior se chama Malta (mesmo nome do país) e as menores se chamam Gozo e Comino , sendo esta última inabitada. Muitos dizem que Gozo é a ilha que Homero, em sua Odisseia, descreve como o lugar em que Ulisses ficou aprisionado por anos. A sua beleza é indescritível, o exuberante ocre da pedra calcária natural se casa perfeitamente com o azul do mar.

A AZURE WINDOW (janela azul), uma formação de pedra em arco rodeado pelo mar como se fosse mesmo uma janela, fazia parte dos monumentos de atração turística da ilha, em que se visitava a partir de um passeio em pequenos barcos de pesca. Foi com tristeza que recebi a notícia que, depois de uma chuva muito forte, ela desapareceu do mapa para sempre... Ela tinha certa personalidade, como se fosse uma celebridade nacional, todos os moradores nativos se orgulhavam de ter um monumento reconhecido como patrimônio natural pela Unesco. Tirei muitas selfies com ela ao fundo, se fosse possível teria pedido um autógrafo....

Apesar desse desastre, a vida continua, e também lá, conhecemos mais lugares batizados com nomes de pessoas, e por que não dizer, pareciam pessoas..
   
Figura 1. Ilha de Gozo, “Azure Window”. Aquarela em sketchbook, tamanho A5.
Figura 2. Paisagem marina na Ilha de Gozo. Aquarela em sketchbook, tam.A5.
Figura 3. Marsalforn, estância balneária, próximo às salinas da Ilha de Gozo. Aquarela em página dupla, em sketchbook, tam.A5
 No sul da ilha de Malta, mais um passeio de barco que explora a paisagem rochosa no mar e leva o visitante a observar cores inimagináveis surgindo do encontro do mar com a rocha. Vimos algas, presas às rochas, que apareciam com um laranja-avermelhado inexplicável recebendo o azul-piscina das águas como num forte contraste pintado por VanGogh.

Nesse dia, o mar estava agitado, mesmo assim, subimos no barco de pesca colorido com alguns outros turistas, e já observando as formações rochosas, longe da terra firme, meu marido me dizia que seria bom nadar nesse mar convidativo, no mesmo minuto Posseidon o escutou e jorrou uma onda pra cima dele, molhou a calça e os sapatos... e em mais ninguém!

Melhor ter cuidado com o que se fala em Malta! E na volta à terra firme, ele se pôs a secar encima de uma trava de amarrar os barcos ancorados. Essa imagem eu tinha que registrar!
 
Figura 4. Secagem do banho de mar no Mercado de peixe em Marsaxlokk, Ilha de Malta. Aquarela em Página dupla de Sketchbook, tam.A5

Outro lugar-pessoa que conhecemos foi a Praça REGINA na cidade de Valletta, a capital de Malta. Espaço público com muitos restaurantes com mesinhas ao ar livre num pátio central, onde fica também a Biblioteca pública.
Carlos, Rosa, Conceição e Ana, amigos portugueses que tivemos o prazer de conhecer, muito simpáticos, parece que completaram o cenário da praça com alegria e boas conversas . O prato típico do almoço foi Bragoli (o g tem som de “dj” em Maltês).  
No meio disso tudo, ainda era época de Carnaval! As pessoas da ilha se fantasiam com muito requinte e romantismo, em especial as crianças que se transformam no que elas querem! Vi desde Homem de ferro, Hulk, Minions, piratas, até koalas e pinguins. Todos bem agasalhados em suas roupas de carnaval, afinal a temperatura estava entre 10 e 16 graus Celsius. Já os adolescentes pareciam fazer parte de carros alegóricos que passavam nas ruas a cada instante, com imensos bonecos supercoloridos, suas fantasias iam desde bruxas e fadas até vestido de doce e cupcakes. Tudo muito colorido e contrastante com as construções de pedra (na sua maioria) que ficavam como pano de fundo em seus tons ocres.
 

Figura  5. Detalhe da Biblioteca pública na Praça Regina. Aquarela em sketchbook, tam.A5

Figura 6. Foto do Desenho presenteado aos amigos portugueses. Sketch rápido (entre o almoço e a sobremesa). Nanquim em guardanapo. Tam. 20x15cm.


Figura 7. Meninas no carnaval em Malta. Aquarela em página dupla em sketchbook, tam.A5.


Um fato interessante me ocorreu, eu, enquanto turista fotografava tudo e mais um pouco, quando comecei a fotografar mobiliário urbano como bancos de praça, telefones públicos, placas de ruas (coisas de arquiteta...) e, ao fotografar um sanitário público, dei uma olhada em seguida na foto da câmera e percebi, bem no cantinho, uma princesa de uns 6 anos, toda sorridente olhando pra mim.... eu pensei: será que ela pensou que eu estava tirando foto da fantasia dela?.. Sim, pensou.

Imediatamente olhei para frente e a vi, ainda a sorrir, como se pedindo uma nova foto, mas dessa vez com ela bem ao centro, claro! Percebi que uma mulher estava sentada ao lado dela, provavelmente a sua mãe, que sorria também pra mim. Elas devem ter achado que ninguém tiraria foto de um sanitário, né? Então aproveitei também para rascunhar aquela princesa ( a mãe dela estava sem fantasia por isso não desenhei....rsrsr).
Figura 8. Princesinha do Carnaval. Aquarela em skechbook, tam.A5.

Adoro entrar em museus, dessa vez foi no Museu Nacional de Arqueologia e no Museu do Arsenal, apesar de ser dia de carnaval estavam abertos. Esses lugares nos contam a história fantástica do povo de Malta e deu para ter uma ideia do quanto eles lutaram contra muitos povos invasores.

Uma caminhada pelas ruas de Valletta demonstra também a influência dos ingleses na sua arquitetura com a utilização das Bay-windows. Os ingleses governaram a ilha de 1814 a 1979. A Catedral S. JOÃO possui rica ornamentação interna e telas de Caravaggio, que se refugiou na ilha por alguns anos, fugido da Itália...
Figura 9. Estatuetas pré-históricas. “Mulher adormecida” (acima a direita). Museu Nacional de Arqueologia, Valletta. Aquarela em página dupla de sketchbook, tam.A5.

Figura 10. Armadura do século XVI-XVIII. Museu do Arsenal, Valletta. Aquarela em sketchbook tam.A5.
No centro da ilha ficam MOSTA e MDINA, cidades mais antigas que Valletta. Lá se pode encontrar a Igreja Sta MARIA, sua cúpula é a terceira maior da Europa (depois de St.Paul em Londres e do Pantheon em Roma). Dizem que em 1942, quando a ilha foi invadida por Hitler, uma bomba caiu na cúpula e rolou pra dentro da igreja mas não explodiu.

Mdina, a “cidade velha” foi capital antes de Valletta, ainda com suas muralhas, conta com residências da nobreza (ainda hoje são mantidas pela tradição familiar) e preserva a arquitetura e palácios do sec.XIV e XV. O portão principal para a cidadela foi construído em 1724 e para se chegar a ele deve-se atravessar uma ponte construída sobre um fosso (escavado pelos árabes), como nas histórias de contos de fada.
 
Figura 11. Detalhe de campainha de porta de uma residência em Mdina. Grafite e caneta posca branca em sketchbook , tam.A5

Figura 12. Entrada de Mdina. Aquarela em página dupla de sketchbook, tam.A5.

Como disse, os lugares são pessoas.... podem ter diversos nomes, Malta, Mdina, João, Maria, Azure, Regina,... alguns deixam saudades, outros nos trazem amizades, outros nos enriquecem com conhecimento, outros são muita aventura!