19.1.12

Cordisburgo - Cidade do coração

No final do ano fui viajar de carro com minha mulher a amigos, e que viagem! Entre meus companheiros de viagem, a Sketcher Mazé Leite, grande artista e ser humano, valeu, Mazé! 

E o que vimos:

Desenho feito durante uma das paradas para almoçar na beira da estrada.
Chapadões imensos, sem fim, a perder de vista, se estendendo por muitas léguas. Vegetação verde em todos os tons, cobrindo toda terra, até onde os olhos podem alcançar. Nuvens que aparentam cavalos fortes como não há e a dúvida se aquilo tudo era real, de se pegar. Amplidão, nação sem fim, mato, roça, arraial, coqueiros altos, envergados pro lado do vento, bananeiras, mangueiras, pé de café, laranjeiras... plantação de tudo quanto é legume e frutas. E o verde das árvores e plantas verdes de milhões de tons; De vez em quando muda de cor e explode, no meio do verde, um violeta intenso, roxo, laranja e o vermelhão da terra destacado, as rachaduras da terra seca e as rochas redondas. Por cima dos montes e montanhas, as pedras espalhadas numa perfeição assombrosa, como que colocada com as mãos. Igrejas brancas isoladas no alto dos montes embranquecendo. No céu, nuvens felpudas, de estiagem, nuvens de chuva e de vento, lá na frente a chuva e depois o sol e a estrada continuam até o final do mundo. Casinhas de barro, sapé, tijolo à vista, telhadinhos coloridos e fachadas pintadas com nossas cores ancestrais, que sempre povoaram nossos sonhos e imaginação. Casas de duas cores bem postas, de onde vem essa noção, se não da própria natureza? Eia, que o sertão não tem fim mesmo, eu vi. 

Dna Alzira, primeira moradora do vilarejo Naque.
A gente foi adiante, rasgando e vimos mais, conversamos com toda a gente boa que pintava. Vimos também banquinhos de madeira na frente da casas onde, debaixo da copa da árvore, serve pra se sentar na sombra depois de mais um dia de trabalho. Beirada pra tomar café e cachaça e prosear sem contar tempo. As vacas comendo e recomendo, galinhas pescando com o bico aqui e ali, cavalos quietos pastando e balançando o rabo como um pêndulo. O tempo corre e as casas e pessoas e galinhas e vacas e bananeiras e verdes e roxos vão ficando pra trás, novas paisagens vão aparecendo
com uma constituição toda nova, mais seca e arenosa, o verde fica mais fosco e estamos indo mais pra longe, vendo rios largos e lagos espalhadas pelo campo. Chapadão imenso. Estamos de bem com a terra, eita, Brasil grande, oh povo bom de sentar na soleira da porta e conversar.
Paramos em um povoado feito de uma só rua. Conversamos com os moradores e tomamos café. Treze dias de viagem de São Paulo para Bahia, parando em João Molevade e Vitória da Conquista antes de dar as caras a Salvador. 
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Pelourinho, queria desenhar tudo lá.

Sirlene posando no bairro do Vermelho.
Na Bahia foi incrível andar pelo pelourinho, ver a casa natal do Gregório de Matos e imaginá-lo cantando seus versos cáusticos pelas tabernas, acompanhando pelas cinco cordas duplas da sua viola, abrindo sua boca do inferno para atacar padres, Deus e o Diabo e os poderosos daquela época. Ele embriagado indo embora, cambaleante, se apoiando nas portas de madeira noite adentro, todo esfarrapado. Vimos também a igreja onde foi rodado o filme brasileiro, premiado em Cannes, O pagador de promessas, perdi a conta de quantas vezes vi esse filme... que bom ver onde foi filmado. Vamos seguindo, conversando com meu amigo, escritor baiano, Gustavo Rios – Gente finíssima!. Visitamos praias e comemos acarajé no Vermelho.
Praia de Itapuã.

Lagoa do Abaeté com a Mazé desenhando.

De lá partimos para Rio de Contas, lugar mágico! A estrada é verde e a vista se dilata para ver aquelas montanhas de sonho. Uma viagem no tempo onde Walter Salles esteve anos atrás, filmando Abril despedaçado, este que ficou encantado com o trabalho do artista Zofir.
A névoa da cidade, somada à arquitetura colonial, cria um ar de mistério. Encontramos personagens saídos diretos dos romances de João Guimarães Rosa. As pessoas são como poemas vivos, andando debaixo da chuva.

Ana Rita Sérgia Ribeira, benzedeira do vermelhão - Rio de Contas.


Bom Jesus da Lapa


Treze dias de viagem: São Paulo, Salvador, Chapada Diamantina, Bom Jesus da Lapa (onde vimos o Velho Chico), e finalmente Cordisburgo, a cidade do coração, onde nasceu Guimarães Rosa, onde conhecemos o Brasinha e a Dôra Guimarães, prima do Rosa e coordenadora do Projeto Miguilim, onde vimos a casa dele e a venda do pai em frente à estaçãozinha de trem. De lá voltamos com o coração repleto de paisagens bonitas e gente mais bela ainda, que nos enriqueceram com seus sorrisos abertos e olhares profundos. 
Dôra Guimarães e Michele no Projeto Miguilim.
Mackswell lendo trecho do Grande Sertão no Projeto Miguilim.


É isso, vamos aprender a sermos brasileiros e enxergar o que é esse País. Pra terminar, cito um trecho do Grande Sertão: Veredas:
“Aprender a viver é o que é viver mesmo.”
João Guimarães Rosa

7 comentários:

  1. Nossa, João, que lindo!!!! Lindos seus desenhos, lindo seu texto! A descrição de nossa viagem está perfeita, emocionante! Valeu, João! Temos ainda muita estrada a percorrer por esse mundão Brasil!

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  2. Lindos desenhos de linhas
    Lindos desenhos com cores
    Lindos desenhos com palavras
    Viajei junto!
    Adorei
    Abraços emocionados

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  3. Sete maluquinhos
    Com muito que fazer
    Chegaram em João Monlevade
    E acabaram por esquecer.

    Sete maluquinhos
    Com destino claro em vista
    Mas terminaram se esquecendo dele
    Em Vitória da Conquista.

    Sete maluquinhos
    Com muito gás no motor
    Tiveram que abastecer
    Na cidade de Salvador.

    Sete maluquinhos
    Sem nenhum vento contra
    Desviaram do caminho
    E foram dar em Rio de Contas.

    Sete maluquinhos
    Pisando fundo
    Num minuto estavam
    Em Cordisburgo.

    Sete maluquinhos
    Em em treze dias e cinco mil quilômetros
    Fizeram viagem épica
    E em suas contas bancárias
    UM ROMBO

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  4. Valeu, Mazé Cassady, Beto, Dalton, JeosaFá, Ju e Beto de novo!
    Sintam-se abraçados.

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