Paco Steinberg
Acho que fui um dos cinco primeiros a chegar, quando encontrei o
professor Ivens Fontoura – um dos responsáveis, ao lado de Claudio Forte
Maiolino, pela reconstrução da Casa Estrela na PUCPR.
Ivens me explicou que o nome da casa é uma referência ao formato da
construção, cuja planta é baseada em uma estrela de cinco pontas. E que em cada
ponta da casa, existe um continente.
Construída em 1930 pelo exímio contador Augusto Gonçalves de Castro, a casa
foi moradia da família até os anos 90. Vivendo entre gigantescos arbustos de
hortências e raios solares diagonais.
Adepto da Teosofia e Esperanto, Castro escolheu dar uma forma à casa que
simbolizasse os ideais pacifistas e de unidade dos povos que estas duas
correntes expressam. O contador levou aproximadamente quatro anos para concluir
a construção. (Mas há quem diga que esticou até o quinto, esmerando-se na
pintura, só para fazer sentido).
José Marconi
Dante Mendonça
Luiz Renato Roble
O trabalho foi desenvolvido
com auxílio de ferramentas precárias e um lampião de carbureto, sempre após o
expediente normal na empresa Macchine Cottons onde exercia a
função de contador.
A casa ergueu-se sob a luz do
carbureto.
Washington Takeuchi
José Marconi
Há quem diga: “A cobertura é feia, esquisita e foi
estruturada toscamente – na base da tentativa-e-erro”. Mas quando vejo de cima,
apaixono-me sempre. Sinto vontade de colocá-la no bolso. Existe para mim, muita
beleza na concepção inocente. O telhado multifacetado obscurece a tacanhice dos
construtores metodistas mascarados. Não há regras quando o efêmero
transforma-se em eterno, nem quando a candura rege a verdade.
A casa está segura, sob as asas da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná e em nossa memória, ou seja, no tempo.
E se você captar o comentário “O carpinteiro deve ter
improvisado”, responda que não existiu tal pessoa. Augusto construiu sozinho,
munido apenas de uma serra de arco artesanal.
Ivens enumera-me uma quantidade incrível de personagens que
fizeram parte da história da casa, e reforça que, conectados por linhas, formam
inúmeros pentagramas sobrepostos.
Num deles está o automóvel marca Buick que
Augusto trocou por um lote de madeira de pinho, vigas, vigotes, ripas e tábuas
com 12 polegadas – ligado ao documento do alvará assinado pelo engenheiro Júlio
Moreira, Diretor de Obras da Prefeitura de Curitiba.
Noutro, alfinetes com nomes dos teosóficos Pitágoras, Jakob
Böhme, Helena Petrovna Blavatsky, Henry Steel Olcott e William Quan Judge.
Justaposto ao traçado de um mapa do bairro Alto da Glória e interligado ao nome
de Ludwik Lejzer Zamenhof – iniciador do Esperanto.
Fabiano Vianna
Reinoldo Klein
Marina Luxi
Raquel Deliberali
Amir Samad Shafa
Caroline Lemes
Simon Taylor
Fabiano Vianna
Cassio Shimizu por Kátia Weber
Em cada ponto em que as estrelas se tocam, cresceu uma
árvore.
O Reitor Irmão Clemente Ivo Juliatto, que é um dos cinco
que chegaram cedo, conta-me que o terreno da PUCPR onde a casa foi instalada
era um espaço para mudas – das árvores a serem plantadas no campus. E que
algumas raízes, depois de um tempo, ultrapassaram os pacotes e fixaram-se ao
solo. O que me leva a pensar que elas queriam ficar ali, ou foram arquitetas e
decididas dentro de um diagrama maior.
Fabiano Vianna por Washington Takeuchi
E enquanto eu esperava um táxi no portão 1, contemplando a
chuva, conversei com o guarda noturno da universidade, Diogo. Ele passa a noite
toda acordado, na guarita. Ou caminhando durante aquele setor.
Disse-me que algo paira sobre
a Casa Estrela. Morcegos e Corujas sobrevoam o telhado todas as noites. As
árvores movem-se ao contrário e sombras perambulam pelas pequenitas escadas.
Falou que, de vez em quando, no silêncio da madrugada, é possível ouvir a
respiração ofegante de um homem trabalhando e o som de uma serra – cortando
madeira.
(Fabiano Vianna, 02/09/13)
Paco Steinberg
Muito bom Fabiano! Ótimo texto, maravilhosos trabalhos e belas fotos!
ResponderExcluirA lenda do construtor fantasma está lançada!!
Encantadora composição, Fabiano Vianna.
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