Sempre estive entre a arquitetura e a arte, imaginando que
teria que escolher entre uma ou outra num certo momento.
Tinha 7 anos e desenhava o Scubidoo quando começaram a dizer que eu “levava jeito”, depois
disso o incentivo vinha dos meus pais, não parei mais. Aos 10 anos, fiz um
Curso de Pintura a Óleo com a Profa. Mazda Fiuza, em Fortaleza, onde nasci. Aos
11, ganhei um concurso no Colégio Cearense-Marista para desenhar no muro do
parquinho e aos 12 um desenho meu foi selecionado dentre as escolas de ensino
fundamental para representar o Estado do Ceará numa competição nacional para a
escolha do selo do natal naquele ano, não ganhei , mas é engraçado como todos aqueles
desenhos permaneceram registrados em minha memória, com detalhes muito nítidos
até hoje.
Naquela época, também me lembro de guardar folhas de jornal
com “plantas” de apartamentos à venda, eu ainda não sabia, mas acho que era um
chamado. Participei de várias exposições no Colégio nas semanas culturais
(Feira de Ciências) até que, por motivos familiares, nos mudamos para o
interior de São Paulo, Ribeirão Preto.
Perto de prestar o vestibular, ainda não sabia se fazia
Arquitetura ou Medicina...
Apostei na Arquitetura e, anos depois, estava formada,
trabalhando em um escritório que me ensinou muito, Contart & Takano
arquitetos, mas a arte sempre me atravessava o caminho, seja em desenhos para trabalhos
da faculdade (um colega até me apelidou “Mondriana”...rsrsr), seja em croquis
de fim de semana, ou mesmo nas férias retornando a terra natal para visitar a
família, desenhos feitos em papel sulfite ou mesmo em bloquinhos pequenos
coloridos (que eram moda), com grafite (experimentando tons), lápis de cor, ou
mesmo caneta BIC.
Sempre gostei de representar o que vejo, acredito que seja
um meio de registro do tempo que não volta mais e de maior proximidade entre o
observador e o a coisa observada. Tenho dito aos que querem aprender a
desenhar, parafraseando o grande desenhista e professor Kimon Nicolaides, que dizia: “Desenhar é uma questão de
aprender a ver”.
Ou seja, um bom artista não é aquele que “sabe desenhar”,
mas aquele que sabe ver. Por isso tenho creditado os desenhos a uma boa
observação. Os olhos que apreendem as formas, as cores, os detalhes, devem ser
o ponto inicial para um investimento no ato de desenhar. E, complementando com
Maurice Grosser : “O pintor pinta com os olhos, não com as mãos”.
Mas o que se vê de verdade? O que o artista quer ver?
Entre arte e arquitetura, percebi que meus desenhos eram
sempre voltados à representação da paisagem urbana, seja onde eu estivesse, a
figura humana se mantinha em segundo plano, na maioria dos desenhos nem ao
menos um “figurante” aparecia, pois a arquitetura era a protagonista única da
cena. Era assim que eu “via” minha paisagem.
Fiz meu Mestrado na UFSCar - São Carlos, em Engenharia
Urbana, e logo estava empregada como professora na Universidade do Tocantins,
em Palmas, em que percebi ser uma vocação maior. Depois de um ano, mudei-me para
Aracaju, fui professora do Curso de Arquitetura e Urbanismo em uma universidade
particular, passei a ministrar desde planejamento urbano até plástica e
perspectiva, pois pra mim, tanto o desenho urbano quanto o desenho geométrico e
artístico são faces da mesma moeda.
Morando em Aracaju, pude realizar meu Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, distante
apenas uns 300km, ia e voltava a cada 3 ou 4 dias, fiz isso por 3 anos e, terminando as disciplinas obrigatórias,
pude aprofundar estes estudos na University College London (Bartlett School of
Architecture) num Doutorado-sanduíche por um período de quase um ano, tendo o
Prof. Bill Hillier como supervisor, momento em que também realizei muitos
desenhos in loco, em especial aos domingos no apaixonante Museu Britânico.
Retornando para Aracaju, onde moro há 17 anos, passei em
concurso como professora efetiva na Universidade Federal de Sergipe, no Curso
de Artes Visuais, na matéria de ensino de Desenho e Pintura, o que tem sido um
prazer e não um trabalho. Tenho participado de várias exposições (coletivas e
individuais). Estando mergulhada em linhas, formas e cores... o ensino nos faz
aprender cada vez mais.
A partir de dificuldades que os alunos demonstravam, quis
pesquisar sobre métodos e técnicas de aprendizagem em desenho, e desenvolvi um
Pós-doutorado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, voltei-me
ao desenho de figura humana, um ponto-chave que aliava duas situações
importantes: a primeira que eu poderia pesquisar metodologias que auxiliassem o
processo de ensino-aprendizagem de meus alunos em disciplinas que eram voltadas
ao estudo da anatomia artística e, ao mesmo tempo, isso me incentivaria a
arriscar mais na mescla da arquitetura com figura humana em meus próprios desenhos.
Métodos de observação e de cognição visual são agora
explorados e desenvolvidos pelos alunos,
além de eu mesma buscar esse reforço para meus urban sketches, os quais muitos
têm sua origem em viagens, bem como em aulas externas com os alunos,
demonstrando como eles podem utilizar o ato de ver com profundidade na prática
do desenho.
Desde outubro de 2015, com muita honra, estou no grupo local
de coordenação dos Urban Sketchers Brasil Aracaju (USk AJU), em encontros mensais,
continuo tentando explorar diferentes técnicas, utilizo grafite, nanquim, lápis
de cor, caneta posca, aquarela, às vezes pastel seco, em que o suporte é
basicamente o sketchbook com gramatura por volta de 180, branco ou colorido,
tamanhos variados (A5, A4, A3).
Também pude participar do 1º Encontro Nacional
USK em Curitiba em abril 2016, conheci desenhistas fantásticos que realizavam diversas
técnicas interessantes, foi uma experiência muito rica e especial.
Contudo, continuo procurando em meus sketches a inserção
adequada de figura humana na paisagem urbana, mas confio na minha insistência e
paciência...
E, por sorte, ainda não precisei escolher entre arte e
arquitetura, talvez nem pretenda fazer isso algum dia.
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