9.4.18

26º Encontro USK Fortaleza - Edifício Granville



Texto: Fabrício Porto

Fortaleza é plana. É a observação irrecorrível que qualquer visitante vindo de cidades escarpadas faz ao transitar pela capital cearense. Erguida sobre um tabuleiro litorâneo e com elevação média de aproximadamente 20m acima do nível do mar, Fortaleza não é uma cidade em que um desenhista, ao representá-la, sobreponha camadas e camadas de horizontes, como se faria em um desenho do Rio de Janeiro ou de Lisboa. Temos o construído diante de nossos olhos e o céu logo atrás. Sensível exceção temos na Volta da Jurema, espaço histórico do município à beira-mar e palco do 26º encontro do Urban Sketchers Fortaleza, ocorrido em março.

Rabiscaram, os sketchers fortalezenses, numa manhã ensolarada - algo não tão recorrente nos meses iniciais do ano - a paisagem atual da Volta. O frescor da maré vizinha não foi páreo para o abrasador sol da manhã alencarina, transcorrendo tudo sob o vibrante calor habitual. De onde se reuniram os desenhistas, vê-se, talvez, o mais expressivo aclive da cidade. A subida da Volta é daquelas em que o motorista passa a primeira marcha para que o carro vença a gravidade. Pela calçada, atletas e coopistas sobem e descem a curta e íngreme ladeira para potencializar seus exercícios. Há também o antigo morro do Granville, ora convertido em Jardim Japonês, uma quadra pública de transição entre o nível do mar e o platô urbano.

No passado, o morro do Granville foi palco democrático de encontro da juventude local e espaço vistoso do circuito litorâneo, um morrete verde subindo rumo a uma construção de geometria audaz, a lhe coroar no topo. A geometria é o emblemático edifício Granville, projeto do arquiteto carioca - e radicado no Recife - Acácio Gil Borsoi (1924 - 2009), que assina muitas das arquiteturas visualmente reconhecíveis da cidade. Prova disto esteve diante dos desenhistas na ocasião: um majestoso bloco de concreto com entalhes precisos e sacadas dançantes que estão em praticamente todos os desenhos do encontro por dominar a paisagem.

A crítica à implantação de um jardim japonês - projeto encabeçado pela Prefeitura de Fortaleza - no morro do Granville, abandonado com o tempo como ponto de encontro, é inevitável, tanto pelo tema quanto pelo resultado. Jardins japoneses pelo mundo tem amplidão e contexto. Em Fortaleza, é de dimensões bastante reduzidas, demasiado cenográfico e não guarda relação com qualquer corrente migratória ou comunidade nipônica, inexistente na cidade. Um saudoso sketcher na casa dos quarenta restituiu, no desenho, a forma antiga do morro tal como ainda permanece em suas reminiscências juvenis. Os mais jovens foram fiéis ao que está posto, talvez sentindo um estranho aroma de estrangeirismo cênico deslocado no espaço.

O resto da história desta manhã de encontro e troca de experiências artísticas e percepções urbanas e culturais está narrado nos registros fotográficos que seguem. O USk Fortaleza segue firme com sua proposta de ocupar a cidade mensalmente com um grupo crescente e ativo, curioso por descobrir e representar este palco de belezas naturais em conflito com contradições urbanas, pouquinho abaixo do equador e debruçado para o atlântico.
















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