André Lissonger



No
último Natal, sob o gentil convite de Lorena Lôpo e sua família, tive a
oportunidade de conhecer a cidade modernista de Caraíba e sua fantástica mina
de cobre no interior do Estado da Bahia – Sertão Nordestino. Sem entrar em
detalhes do quão foi excelente a convivência pessoal naqueles dias de
festividade em torno dos incríveis caseiros pátios modernistas, aproveitei também o
privilégio para tentar fazer uns sketches da cidade planejada, projetada e desenhada
pelo arquiteto urbanista Joaquim Guedes.
Tentar,
pois eu confesso que após organizar o nosso grande Encontro Nacional Urban
Sketchers Brasil que aconteceu na primeira semana de setembro do ano passado, me senti exausto e quase sem vontade nenhuma da prática de urban sketching. Concentrando-me somente
no ensino, em duas competições nacionais de arquitetura e urbanismo, mais três extenuantes
projetos de arquitetura, um novo mergulho na obra do geógrafo Milton Santos e
outras questões pessoais que tive de abdicar ao longo de quase um ano. Nesse
sentido, foi a surpresa de encontrar essa cidade no meio do Sertão, ao final do ano, e que me
renovou o amor pelo desenho de rua... portanto, somente hoje, seguem essas linhas e desenhos, que venho costurando ao longo desse tempo.
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Por do Sol do Sertão, em Caraíba/BA. |
Caraíba/BA
é, atualmente e oficialmente, o Núcleo
Residencial Pilar, Jaguarari, BA... o que aparentemente, não faz
diferença para seus moradores. Nome e apelido confundem-se. Planejada em um
período político-econômico centralizador, ditatorial e desenvolvimentista sob a
demanda da antiga empresa estatal Caraíba Metais S.A., para viabilizar a
exploração das jazidas de cobre, foi concebida através de um Concurso Nacional
de Arquitetura e Urbanismo.
O certame foi vencido pela equipe de Joaquim Guedes no ano de
1976. A cidade é gestada pelo escritório até 1982, mas desde 1978 a cidade já
passa a ser ocupada em função da exploração da mina de cobre. Pode-se dizer que
as circunstâncias reais do contexto físico e cultural nortearam o seu
nascimento, o que, por paradoxal que possa parecer... quase absolutamente
contrastaram com os paradigmas do Movimento Moderno, ao qual Guedes era
filiado. Ao ser humano geograficamente genérico desejado pelos ditames do
modernismo, o sensível método (caminho percorrido) de pesquisa percorrido e o processo
projetual adotado foi fertilizado pelo ser humano e contexto específicos.
Essa aparente contradição ocorrida no contundente modernismo pregado
pelo seu criador já se inicia com uma extensa pesquisa realizada por uma equipe
multidisciplinar que procura completar as parcas informações cedidas pela Caraíba
Metais. Foram realizadas diversas pesquisas sobre as características
geográficas, físicas e humanas. Daí também meu interesse nessa postagem, que
veio na esteira do meu renovado interesse em re-refletir sobre a influência de
Milton Santos nos meus trabalhos como urbanista e como urban sketcher.
Essas condições reais (sertanejas) influenciaram no nascimento
da cidade, que teve que ser projetada relativamente “fechada”, mas também na
condição uterina, que é proposta e, relativamente mantida no DNA das suas
moradias. A cidade e as casas da caatinga (...
sonora, majestosa, luminosa, bela,..) impuseram suas regras às condições existenciais
dos seus usuários e moradores. A um sistema fixo de infraestrutura urbana,
Guedes propõe um sistema arquitetônico variável, flexível, que até então é (re)apropriado,
(re)significado, transformado pelos seus moradores.
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Desenho original de Joaquim Guedes |
No sistema fixo, é proposto um claro urbanismo funcionalista
sob o método do zonning e um parcelamento urbano cuja situação fundiária
corresponde à hierarquia social e econômica dos funcionários da empresa
exploradora da mina. A rígida trama regular curiosamente é reconhecida com pitorescos
nomes de espécimes biológicos da caatinga e, ao mesmo tempo, é justamente a
escala e a linguagem das suas arquiteturas, dispostas em meio à malha urbana, é
que contribuem para o fácil reconhecimento cognitivo dos diversos “lugares”
criados... rompendo com o que se imagina que se poderia encontrar como uma
paisagem modernista monótona. Ainda acho uma pena que muitos espaços vazios
ainda não tenham sido projetados, completados, dando a aparência de terem
ficado residuais.
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Desenho original de Joaquim Guedes |
A trama é organizada através de seis praças centrais e outras
pequenas seis praças setorizadas próximas a escolas e parquinhos infantis. O
centro da cidade é de uso misto, incluindo apartamentos e alojamentos (de
arquitetura social) mais próximos às atividades de primeiras e segundas
necessidades (órgãos públicos, postos de saúde, escolas, farmácias, mercados,
bancos, etc). O hospital e as atividades de lazer social e esportivo são geralmente
setorizados no seu perímetro.
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Maquete original de Joaquim Guedes |
Os edifícios de apartamentos e alojamentos são extremamente
compridos (longitudinais), ocupam praticamente todo o perímetro das quadras
centrais e possuem um projeto arquitetônico bastante interessante em termos
tipológicos, de detalhamento e de alguns esforços fenomenológicos (estes
últimos, bem sensíveis).



Em termos tipológicos, os edifícios possuem parte do seu
corpo sobre pilotis... gerando galerias abrigadas do sol inclemente. Aí
acontece grande parte da dinâmica urbana comercial. Algumas tipologias de
plantas gerais e particulares, internas, reproduzem alguns modelos do primeiro
pós-guerra europeu, com alguns interessantes detalhes de molduras, encornijamentos,
modenaturas, caixilhos, trocas de ritmo e até de pingadeiras pré-moldadas.
Mas
a paleta de cores encontrada e escolhida, em pastilhas tipo “Vidrotil”, parece
estar em consonância com a maioria dos tons da vegetação e das trocas luminosas
do contexto... todavia, essa percepção só é possível em presença das próprias
obras. Seguem algumas aquarelas e comparações através de escalas Pantone e
aplicativos de paletas em RGB.
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Análises da paleta de cores da caatinga, da aquarela realizada in loco, das atmosferas ambientais e das cores dos edifícios dos apartamentos e alojamentos do centro da cidade. |
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Paleta comparativa do modernismo de Tarsila do Amaral e Portinari, com temas sobre o Sertão Nordestino. |
As tipologias das casas variam por classe social econômica,
mas ainda assim, é possível notar muito mais além do que a possibilidade da sua
modificação. A relação da maioria das casas provoca uma relação de contemplar e
ser contemplado pela vida urbana... ter um trecho de jardim semi público que vai
além das suas largas calçadas, e, sobretudo, permitir, com seu pátios internos,
a redução do impacto do intenso calor e muitas variações da dinâmica da vida
íntima (familiar).
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Desenho original de Joaquim Guedes |
A tipologia arquitetônica adotada nas escolas parece estar
antenada com os avanços das escolas montessorianas projetadas por Herman Hertzberger,
na mesma época... permitindo, além do “controle” do conforto ambiental, a
possibilidade de criação de um micro cosmos de determinadas turmas de
estudantes. Senão, a intuição de Joaquim Guedes, contaminada pelas exigências
do contexto... avança em uma direção interessante. Os espaços são muito
generosos... e acredito que uma criança/adolescente que tenha estudado aí,
tenha algumas boas recordações da vivência desses espaços e transições que
variam entre a escala caseira, a escala comunitária e a escala urbana.
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Planta original de uma das escolas, por Joaquim Guedes. |
Os detalhes não param por aí... a equipe de Joaquim Guedes
desenvolveu calhas prediais em casas, bocas de lobo urbanas, terças estruturais
de telhado em técnicas mistas, aberturas de esquadrias, encontros de pilares
nas juntas de dilatação, para diversos locais e edifícios. Geralmente
localizados aparentemente em pontos focais estratégicos, como nos grandes vãos
dos galpões dos clubes, eixos de corredores de escolas, ou mesmo nas folhas das
esquadrias das mais singelas, humildes, residências.
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Tipologia de casas com uma porta e uma janela. |
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Detalhe das tesouras do clube. |
É constante a troca de luminosidade e de temperatura nas suas
casas. Variáveis desde o mais opaco até um alto índice de luz... da sombra mais
refrescante e, em alguns momentos do dia, e também da noite, chegar ao acúmulo
do calor abafado. Acredito que a experimentação tipológica ainda permite
estudos mais avançados em termos de conforto ambiental, mas também são um bom
avanço e exemplo da revisão que os próprios modernistas iniciaram em seus
próprios preceitos mais rígidos.
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Pátios internos vivenciados. |
Passando dessa sensível micro escala bem familiar aos
arquitetos, ainda tive o enorme privilégio de conhecer as instalações da
contemporânea Caraíba Metais. Em especial, a possibilidade de adentrar a
quilométrica mina de cobre abaixo do solo. Convite de Silvano, o qual
brilhantemente proferiu incríveis preparações prévias, palestras e visitas sobre/nas
instalações da Caraíba Metais... proporcionando momentos inesquecíveis a este
relés projetista.
Já havia conhecido, em tempos de música, Senhor do Bonfim/BA,
Juazeiro/BA, Petrolina/PE e cidades do entorno. Como arquiteto e professor, a
escala de Sobradinho, Paulo Afonso, etc... o que já tinha me feito sucumbir ao
que entendia, como jovem arquiteto, o que eu acreditava saber o que era
arquitetura. Mas, percorrer os quilômetros de uma mina subterrânea contemporânea
ainda conseguiu superar o que eu já tinha visto/vivenciado.
Infelizmente o tempo, que parece infinito lá dentro, pela
tensão do próprio trabalho dos incríveis mineradores, a ambiência, e o aparato
de segurança e vestimenta, não me proporcionaram a confortável sensação de
desenhar lá dentro. Segue o sketch visual, cognitivo e intuitivo do “core” e da
dimensão do que acredito ter visto, percebido e vivido lá embaixo.
De todos os “Cores” (núcleos) de infraestrutura predial que
já tinha visto... esse foi o único onde predomina na paisagem. Possui, além das
inúmeras instalações de ventilação, exaustão e circulação vertical, um elevador
com capacidade para 100 (cem) mineradores. Nenhum projeto que já fiz, nem
qualquer exercício de ateliê de projeto que já ensinei profissionalmente, teve,
até hoje, um “core” dessa dimensão... no máximo espalhado em diversos locais de
um projeto. O surpreendente está em que ele é, apenas, simplesmente, “a ponta
do iceberg”.
Um “core” superficial de uns 100 metros de altura (tranquilo
para qualquer edifício), como aquele, pode se multiplicar sua profundidade por
várias vezes. Mas nem ele consegue chegar à extensão e profundidade daquela
mina. A quantidade de buracos, locas, desvios, becos, operações (algumas
extrações lembram vídeo games), extrações, cabos, hierarquias, desvios, instrumentos,
equipamentos, situações, emoções, sensações, etc... tornam completamente
indescritível a percepção daquele aparentemente incomensurável buraco feito
pelos seres humanos. E, tentando aceitar que tudo aquilo é racionalmente
controlado, comunicado, hierarquizado, e ainda, completamente desconcertado... tentando
me aproximar às palavras do mestre Paulo Mendes da Rocha, quando fala dos
fluidos, dos portos aquaviários, etc... tento cada vez mais aceitar, mesmo me
impressionando, que “tudo é projeto”
mesmo.
Hoje, quando encerro essas palavras... já à sombra e
ventilação tropical da minha pequenina varanda à frente do azulado céu e do Oceano
Atlântico em Salvador/BA, reflito que a experiência de conhecer, vivenciar e
desenhar um pouquinho dessa cidade, que me foi gentilmente apresentada, me
proporcionou, mais uma vez, aquelas que são as lições que mais me tocam no amor
à arquitetura... a do lugar, e hoje passo a assumir, a da geografia humana e,
ainda a outra, como sempre, a das escalas. Essas duas lições sempre me
emocionam. E por isso as desenho... para que elas se fixem mais firmemente nas
minhas lembranças.
Enfim, agradecido... encerro essas frases retornando a uma
citação do próprio Joaquim Guedes que, ao iniciar um dos seus textos
emblemáticos, cita uma igualmente marcante frase do poeta lusitano Fernando Pessoa...
“Nunca conheci quem tivesse
levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”.
...
e a recito pois é apenas dessa forma poética que posso/consigo transmitir essa minha
sensação de desejo de ampliar a célebre e real máxima de Euclides da Cunha, de que,
“o
sertanejo é antes de tudo, um forte”...
mas em Caraíba, de algumas formas, antes de tudo, sendo um forte... ele é
também moderno.
Adorei os desenhos e as histórias dessa cidade modernista! Grata
ResponderExcluirASS..WR.WB.SAYA PAK RESKY TKI BRUNAY DARUSALAM INGIN BERTERIMA KASIH BANYAK KEPADA EYANG WORO MANGGOLO,YANG SUDAH MEMBANTU ORANG TUA SAYA KARNA SELAMA INI ORANG TUA SAYA SEDANG TERLILIT HUTANG YANG BANYAK,BERKAT BANTUAN EYANG SEKARAN ORANG TUA SAYA SUDAH BISA MELUNASI SEMUA HUTAN2NYA,DAN SAWAH YANG DULUNYA SEMPAT DI GADAIKAN SEKARAN ALHAMDULILLAH SUDAH BISA DI TEBUS KEMBALI,ITU SEMUA ATAS BANTUAN EYANG WORO MANGGOLO MEMBERIKAN ANGKA RITUALNYA KEPADA KAMI DAN TIDAK DI SANGKA SANGKA TERNYATA BERHASIL,BAGI ANDA YANG INGIN DIBANTU SAMA SEPERTI KAMI SILAHKAN HUBUNGI NO HP EYANG WORO MANGGOLO (0823-9177-2208) JANGAN ANDA RAGU ANGKA RITUAL EYANG WORO MANGGOLO SELALU TEPAT DAN TERBUKTI INI BUKAN REKAYASA SAYA SUDAH MEMBUKTIKAN NYA TERIMAH KASIH
ExcluirNO HP EYANG WORO MANGGOLO (0823-9177-2208)
BUTUH ANGKA GHOIB HASIL RTUAL EYANG WORO MANGGOLO
DIJAMIN TIDAK MENGECEWAKAN ANDA APAPUN ANDA MINTA INSYA ALLAH PASTI DIKABULKAN BERGAUNLAH SECEPATNYA BERSAMA KAMI JANGAN SAMPAI ANDA MENYESAL
angka;GHOIB: singapura
angka;GHOIB: hongkong
angka;GHOIB; malaysia
angka;GHOIB; toto magnum
angka”GHOIB; laos…
angka”GHOIB; macau
angka”GHOIB; sidney
angka”GHOIB: vietnam
angka”GHOIB: korea
angka”GHOIB: brunei
angka”GHOIB: china
angka”GHOIB: thailand
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