A
ideia de fazer um encontro regional com os grupos USK do Norte-Nordeste surgiu
ao sabor de uma deliciosa cavala frita, regada a goles de cerveja, em um dos
bares do Mercado Modelo de Salvador, em 2015. Porém, Mestre André Lissonger e
eu não tínhamos ainda a noção do formato deste encontro. Não pensamos
inicialmente, em um encontro no formato que foi organizado pelos USK Curitiba
no ano seguinte, que veio a se tornar o 1º Encontro USK Brasil. No caso em
questão, ficamos a pensar: Seria um percurso por cidades? Quais cidades? Ou
seria melhor concentrar em uma cidade?
A
ideia ficou em “hibernação” até 2018, quando foi retomada a poucos dias da
realização do 3° Encontro Nacional USK Brasil, também em Salvador. Na ocasião,
sugeri que fizéssemos – os USKabras – uma reunião em algum momento durante o
encontro para definirmos data e local de realização do evento. Entretanto, a
empolgação e o desejo de desenhar foi tão grande em Salvador, que não
conseguimos tempo para fazermos essa reunião.
Mesmo
não se concretizando a referida reunião, voltei para Natal vislumbrando a
possibilidade de organizarmos – nós, os USK Natal – o evento para uma data que
possibilitasse a presença do português André Duarte Baptista em terras
potiguares, haja vista a atuação deste desenhador como desencadeador de
atividades vinculadas ao desenho de rua na cidade de Torres Vedras. Devo
salientar que além do desenho, tenho estabelecido articulações com André no que
diz respeito às minhas pesquisas acerca de processos de reabilitação urbana em
áreas históricas, o que motivou a assinatura de um acordo de parceria entre o
Departamento de Arquitetura da UFRN e a Câmara Municipal de Torres Vedras. Este
acordo prevê trocas de experiências de atividades relacionadas à temática,
entre as duas instituições. Neste âmbito, organizamos uma participação em uma
sessão livre no XVIII ENANPUR, Natal 2019, a ser realizado entre os dias 27 e
31 de maio. Esta participação possibilitaria a vinda do André a Natal, e nesse
âmbito, considerei que seria uma boa oportunidade de propor a organização do
encontro Norte Nordeste para uma data próxima à realização do ENANPUR.
Lancei
a proposta para os coordenadores do grupo (composto além de mim, por André
Alves, Petterson e Eunádia), complementados pelos “meninos” de apoio (Daniel e
Arianne) e houve concordância geral, com sugestão de data para os dias 31 de
maio, 01 e 02 de junho. Passamos a definir também a temática do encontro, a
enfatizar o patrimônio cultural e ambiental da cidade, temática esta que
norteou a proposta inicial de locais a serem registrados: os bairros da Ribeira
e da Cidade Alta; a Fortaleza dos Reis Magos; o Beco da Lama; a praia de Ponta
Negra e o Morro do Careca; a Vila de Ponta Negra.
Partimos
então para a elaboração da identidade visual. Tínhamos por premissa a intenção
de articular em uma mesma imagem referências do patrimônio cultural e ambiental,
no caso, o Forte dos Reis Magos e o Morro do Careca. E a construção foi
coletiva (com uma grande contribuição do nosso designer Daniel Lucas): uma ideia daqui, um rabisco dali, até que
foi surgindo um desenho que respondeu ao quesito de articular as duas imagens
referenciais, tendo como elemento aglutinador o fundo azul esverdeado (ou verde
azulado), representando, fusão entre o céu e o mar. A partir da definição da
logomarca passamos à elaboração do manual de identidade visual, dotado de
informações sobre aplicação da identidade visual em bolsa, camiseta, button,
papel timbrado, material de divulgação.
Primeiros estudos para a identidade visual do evento.
A
quem interessar o manual de identidade visual pode ser visualizado a partir
deste link: http://urele.com/USKNNE.
O
próximo passo foi entrar em contato com os possíveis patrocinadores e
apoiadores, sendo os patrocinadores, os que regularmente estão presentes nos
encontros (Dina, GG, Papelaria Universitária), que atenderam prontamente ao
convite e nos brindaram com excelentes ofertas; e quanto aos apoiadores, a
escolha partiu da possibilidade de articularmos as atividades do desenhar com
espaços que incentivam as manifestações culturais, as mais diversas (Nalva,
Tapiocaria da Vó, o Beco da Lama). Além do mais, o apoio do IPHAN na doação de
livros que enfatizam o nosso patrimônio cultural (de modo geral: Brasil, e em
particular: Natal). Considero que esses aspectos contribuíram para a construção
de um encontro diferencial.
Também procuramos obter apoio institucional da Fundação José Augusto (Governo do Estado do RN), da Fundação Capitania das Artes (Funcarte - Prefeitura Municipal do Natal) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RN), o que fomos prontamente atendidos. Saliento que estes apoios foram fundamentais nas questões relacionadas à logística do evento. Deixo aqui, em nome da comissão organizadora, o nosso sincero agradecimento a estas instituições.
Também procuramos obter apoio institucional da Fundação José Augusto (Governo do Estado do RN), da Fundação Capitania das Artes (Funcarte - Prefeitura Municipal do Natal) e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/RN), o que fomos prontamente atendidos. Saliento que estes apoios foram fundamentais nas questões relacionadas à logística do evento. Deixo aqui, em nome da comissão organizadora, o nosso sincero agradecimento a estas instituições.
Mas
o que mais diferenciou este encontro mesmo foi a possibilidade de proximidade
com a prática cotidiana dos espaços registrados. E não me furtarei de fazer
alguns relatos de situações que marcaram o momento em cada um deles.
No
dia da abertura, realizado no Café Salão de Nalva Melo, na Ribeira, não posso
esquecer do diálogo entre Esther, a filha de Nalva, e a nossa desenhadora
Eunádia. Ao observar toda a movimentação gerada pelos quase 90 desenhadores
esparramados pelas imediações do Edifício Bila, a garotinha interpelou Eunádia
e disse:
- Eu preciso de uma página.
O
que foi prontamente atendida: Eunádia recorreu ao nosso designer Daniel Lucas,
que cedeu uma folha de papel.
Então
Esther passou a desenhar vivamente o que a sua vista alcançava. Desenhou alguns
edifícios e resolveu fazer mais um pedido:
- Eu quero pintar!
Eunádia,
mais do que depressa, cedeu a sua bolsa de lápis de cor à menina, que passou a
dar mais graça ao desenho. E como era final de tarde, Esther viu a necessidade
de incorporar algo que sentia, mas não via: o sol.
-Eu posso desenhar o sol?
Perguntou a menina.
-Claro que sim, respondeu a
desenhadora.
O desenho de Esther
Logo
após, chegou o momento da primeira Exposichão do encontro. Uma impressionante
miscelânea de olhares e linguagens sobre um pedaço da Ribeira. Eunádia convidou
Esther para também colocar o seu desenho junto aos demais, ao que a desenhadora-mirim
retrucou:
- Mas eu não sou dessa
escola!
- Agora já é! Respondeu Eunádia.
E
a menina se sentiu tão daquela escola, que depois já perguntava “quando era que
o desenho dela iria para a parede”, numa clara alusão de que já queria
participar da exposição que estava ocorrendo no café salão: uma exposição,
inclusive, que atesta o diálogo / parceria entre Natal e Torres Vedras, já
citado no início desse relato.
Desenho de André Alves
Desenho de Petterson Dantas
Exposichão - Dia 31/05 (tarde/noite) - Nalva Melo Café Salão
No
segundo dia manhã, na Cidade Alta, a ideia era ter a praça Padre João Maria
como ponto de encontro e a partir de lá fomentar o percurso pelas ruas da
Cidade Alta. Porém, boa parte dos espaços encontram-se vedados por tapumes
(obras), e os desenhadores naturalmente foram encontrando seus lugares na
própria praça, nos bancos, nas sombras, nas proximidades do busto do padre João
Maria, o que não furtou de alguns irem para além da praça e fazerem alguns
registros do patrimônio religioso.
Nesta
manhã, o fato a ser relatado – com ajuda mais uma vez de Eunádia – foi a
presença o sapateiro que toca berimbau, que chamou a atenção de Juan Carlos Franchevic,
que se prontificou a tocar o instrumento e falar que o mesmo o faz “voltar às
suas origens”. E o sapateiro dono do berimbau ainda revela suas preocupações
com as interferências realizadas no patrimônio edificado, fato registrado por
Eunádia em um dos seus rápidos desenhos feitos durante o tempo que passamos na
praça.
Desenho de Eunádia Cavalcante
Desenho de Jota Clewton
Exposichão - dia 01/06 (manhã) - Cidade Alta
Foto oficial - dia 01/06 (manhã) - Cidade Alta
A
visita ao forte, no sábado à tarde, foi o momento de maior preocupação por
parte dos coordenadores. Requereu uma logística particular, pois o forte encontra-se
em obras (na verdade com as obras paradas, devido a questões de natureza
técnica). Tal fato gerou a necessidade da coordenação empenhar-se em garantir o
deslocamento e o acesso ao edifício, primando pela seguridade dos
participantes.
Ao
mesmo tempo, tínhamos a preocupação também em saber qual seria a reação dos
participantes do evento, com relação à situação em que o bem se encontra. E a resposta
foi com um conjunto de desenhos bem expressivos, tanto do exterior, na relação
entre o forte, a água, a ponte e a cidade, ao fundo/ como no interior, cujo boa
parte dos desenhadores não se furtaram em explicitar as marcas de um espaço em
obras.
Como
fatos a rememorar, elenco pelo menos dois: o primeiro, relacionado ao depoimento
do Marcos Bandeira, agradecendo a mim, em nome da organização do evento, por
ter possibilitado aquele “momento inesquecível vivenciado na visita”; o segundo
tem como protagonista o “Lord” Eduardo Bajzek, ao “descumprir” o que ficou
acertado previamente pela organização: por volta das 15h30, o grupo que tinha
entrado no interior da fortaleza às 14h30 deveria trocar de lugar com o grupo
que ficou no exterior. Mas Bajzek não tinha concluído a aquarela e estava tão
absorto nela que não percebeu a troca. E quem teve “coragem” de tira-lo daquele
lugar? Eu? Nunquinha! No final: dois registros maravilhosos (O do Marcos no
iPad e a aquarela do Lord) abrilhantaram esse momento.
Desenho feito no iPad - Marcos Bandeira
"Lord" Bajzek concentrado em sua aquarela.
O resultado de tanta concentração.
Exposichão - dia 01/06 (tarde) - Fortaleza dos Reis Magos
Foto oficial - dia 01/06 (tarde) - Fortaleza dos Reis Magos
Na
volta, o registro de um espetacular por-do-sol. Não tinha como não lembrar do
sol de Esther: aquele do registro do dia anterior!
E
nesse dia ainda teve o multicultural e popular Beco da Lama à noite. O espaço
passou recentemente por um processo de valorização e reconhecimento enquanto
espaço de sociabilidade, a partir de intervenções relacionadas à grafitagem nas
fachadas e muros de seus edifícios. Mas, bem antes dessas intervenções, que
notadamente agregou valor ao espaço, o beco já era ponto de encontro da boemia,
da música, dos tipos populares. E o espírito dos USKabras é bem afeito a essas
formas de apropriação do espaço. Desse modo, por entre uma música e outra, uma
cerveja e outra, ora mais ora menos “espremidos”, os nossos urbansketchers
seguiam registrando os momentos.
Registro de Eduardo Bajzek.
Registro de Jota Clewton
E
chegou o domingo. E domingo é dia de praia! Com os Uskabras não poderia ser
diferente!
O
encontro pela manhã ocorreu na praia de Ponta Negra, e como era de se imaginar
os desenhadores “meteram o pé na areia” e se empenharam e fazer registros
notadamente de um dos principais cartões-postais da cidade: o Morro do Careca.
A
areia da praia também recebeu a presença do público desenhador infantil. Lá
estava o nosso mascote Miguel, desenhando em família.
Mas não foi somente este patrimônio ambiental que foi alvo dos olhares. As práticas cotidianas também tiveram seu lugar, como podemos observar nos registros do “nosso” português André Baptista. Notadamente Janaina, uma “matrafona” que já é patrimônio desta praia, há mais de 20 anos “discotecando” e no limite de “dar a luz”.
A "matrafona" Janaína, registrada por André Duarte Baptista.
Foto oficial - dia 02/06 (manhã) - Praia de Ponta Negra
À
tarde, subimos o morro. Chegamos à Vila de Ponta Negra, em um espaço que reúne
as dimensões simbólica e sociocultural. A vizinhança da Igreja de São João
Batista foi “invadida” pelos sketchers, que puderam dividir a prática do
registrar o espaço com uma boa roda de samba que rolava na Tapiocaria da Vó. E
o samba dividiu espaço com as simpáticas rendeiras do projeto “Rendeiras da
Vila”. Estas mulheres estão regularmente realizando este belo ofício de segunda
a sexta à tarde, e gentilmente abriram uma exceção para poderem marcar presença
no nosso encontro, em uma agradável tarde de sol. E a presença foi tão marcante
que fez o nosso sketcher Fabrício Porto querer praticar o ofício.
As rendeiras e o sketcher Fabrício, aprendendo o ofício de rendar.
De
repente, observamos a chegada dos meninos do projeto “As Cores da Vila”, que
ficaram encantados tanto com a tecnologia do iPad do Marcos Bandeira, como com
a magia do caderno do André Baptista!
As crianças e o iPad do Marcos Bandeira.
As crianças e o caderno do André Baptista.
E
teve também coco de roda, em homenagem ao Mestre Severino, pelos seus oitenta
anos de vida.
O registro de Lenilson Jonas
Aquarela de Jonathan Guedes.
Exposichão - dia 02/06 (tarde) - Vila de Ponta Negra
Foto oficial - dia 02/06 (tarde) - Vila de Ponta Negra.
E,
como de praxe em nossos encontros nacionais, tivemos um pós-encontro que
ocorreu no Mahalila Café e Letras, espaço que também recebe atividades de cunho
cultural. É claro que houveram registros, que priorizaram o convívio e o
compartilhamento das experiências entre os presentes.
Desenho de Eduardo Bajzek
Desenho de Jota Clewton
Vida
longa aos USKs!
Vida
longa aos USKabras!
Que
nos encontremos em Ouro Preto!
Que
venha o 2º Encontro USK Norte Nordeste 2021, em Fortaleza!
Comissão
organizadora:
André
Alves
Eunádia
Cavalcante
Jota
Clewton
Petterson
Dantas
Arianne
Constantino
Daniel
Lucas
Monitores:
Antônio
Alexandre
Renata
Freire
Vítor
Gomes – créditos das fotografias.
Rafaela
Janosek – créditos das fotografias.
Link para as fotografias:
https://drive.google.com/drive/folders/1IM3H1YIolCE6bRtBAo5L89o9zMEWjXq-?usp=sharing
Excelente post. É que saudades desses dias. Obrigado pela oportunidade de embarcar neste projeto pelas palavras de amizade. Um abraco e até breve
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