Desenhos em guardanapo, caneta nanquim uni-pin 0.5, out 2016 |
Segundo Luís Urbano (2013,p.125): “Esse lado simbólico da arquitectura, hoje em dia, perdeu-se; as casas parecem escolas, as escolas parecem hospitais, os hospitais parecem aeroportos, os aeroportos parecem hotéis.” Embora, isso não seja o principal problema, mas sim quando as edificações são somente uma imagem sem consistência.
Caminhando pelas ruas de Paris, compreendi o que Urbano dizia, deparei-me com muitas edificações simbólicas e representativas da cultura parisiense, uma expressão arquitetônica em que a identidade sobressalta aos olhos. Essa consistência arquitetônica a que se refere pode ser percebida nessa cidade sem muito esforço. Especialmente quando você se deixa levar por ela, em que você como um simples e comum turista passa a ser um Flaneur, adentrando no mundo de Charles Baudelaire e Walter Benjamin, um flaneur como “observador da cidade”.
Deixei-me perder pelas ruas de Paris, sem mapa e sem câmera fotográfica... Nesse momento, a cidade guia você. E a arquitetura pode ser percebida em sua consistência. A carga simbólica que resulta da vivência e experiência próprias num espaço urbano ou arquitetônico fica materializada para sempre em seu pensamento.
Quando se passa por um espaço urbano como a Pirâmide do Louvre em que um único espaço duas arquiteturas distintas são exaltadas, feitas em épocas tão distantes (o principal edifício foi fundado em 1190 para ser uma fortaleza, depois virou palácio no século seguinte, muitas transformações na época de Luís XIII e Luís XIV, e em 1989 construída a pirâmide de vidro) e com tipologias tão diferentes, mas que, ao mesmo tempo, se completam tão bem, você já fica sem palavras para descrever tão enigmático espaço. A impressão que se tem agora é que, antes da Grande Pirâmide de I.M. Pei, o espaço estava incompleto.
Sketch Pirâmide Louvre, Aquarela A4, out 2016 |
Sketch Jd. de Tuileries, Aquarela A4, out 2016 |
Experimentar a cidade, para mim, é o primeiro passo para se perceber onde está, para conhecer o lugar. Desenhar a cidade é o primeiro passo para se perceber como a cidade realmente é, seus espaços, seus detalhes.
Aquele Flaneur sem destino acaba sendo direcionado para determinados caminhos através dos próprios espaços urbanos. A arquitetura o leva pela mão a conhecer sua consistência e carga simbólica. Até que o tempo presente não está mais a sua frente, mas sim o passado, fazendo com que perceba o espaço como é e como foi em outros tempos.
Do Jardin de Tuileries para as margens do rio Sena, a Ponte Alexandre III surge. Uma das mais belas pontes já construídas! Cenário de filmes e objeto de conteúdos literários, ela fala por ela mesma.
Ela não apenas liga as duas margens do rio, mas arquiteturas fantásticas, como Grand Palais e Les Invalides. Seu percurso serve tanto a veículos quanto pessoas, ao turista e ao cidadão. Seu simbolismo vai além do rigor estilístico Art Nouveau, alem do valor historicista de sua construção em 1896, expressa uma conexão com o ser, também é palco de centenas de milhares de fotografias, em que de um lado surge a Torre Eiffel como ponto focal, do outro, o Museu do Louvre.
Interessante também é verificar que, a cada monumento, a cidade informa ao turista e ao cidadão dados históricos que acabam por enriquecer ainda mais seu percurso, a partir de totens que também casam imageticamente com o espaço.
Sketch detalhe Ponte Alexandre III, Aquarela A4, out 2016 |
Sketch totem informativo, Hidrocor, papel colorido A4, out 2016 |
Nesse ponto, saia correndo! Senão sua mente não vai aguentar essa cidade “irritantemente charmosa” (segundo a personagem do filme “Meia-noite em Paris”, 2012, de Woody Allen). Continue correndo, passando por toda a Avenida Champs Elysée, sem parar em nenhuma loja! Pronto, o Arco do Triunfo vai fazer você parar e perceber a linha barroca dos boulevards implantados pelo Barão Haussmann no século XIX.
Foto na Av. Champs Elysée, out 2016 |
Sketch Arco do Triunfo, Caneta sanguínea e hidrocor, A4, out 2016 |
Numa outra direção, caminhando e você se depara com a Opera Garnier, sentar num dos cafés na lateral pode-se observar a magnitude arquitetônica e ricos ornamentos daquela edificação. Faz imaginar como ele era em seu auge. Então, sua curiosidade o faz entrar e visitar o belíssimo palco de espetáculos, com o teto elaborado por Chagall.
Mas se seguir em outra direção pode apreciar edificação igualmente bela como a Catedral de Notredame, ou ainda a Sainte-Chapelle, com seus vitrais multicoloridos apontando para os céus, ou ainda caminhando mais adiante você pode se deparar com uma arquitetura totalmente mágica, numa linguagem pós-moderna com o arquiteto Frank Gehry e sua Cinemateque française.
Sketch Opera Garnier, caneta sépia, A4, out 2016 |
Foto do desenho em Cafe na lateral da Opera Garnier, out 2016 |
Sketch Cafe Garnier, Sanguinea A4, out 2016 |
Sketch Sainte-Chapelle, Aquarela A4, out 2016 |
Sketch Cinematheque française, Aquarela A4, out 2016 |
Descrever Les Halles é uma tarefa meio impossível... você pode desenhá-lo e ver se ele pode dizer algo por si mesmo. Sim, é o encontro perfeito entre o passado e o futuro. Sentar num de seus cafés e perceber que você, no tempo presente, acaba sendo o elo que une o passado historicista das edificações de 5 ou 6 pavimentos do século XVIII a uma estrutura arquitetônica “futurista”, como saída de filmes do século XXVIII...
Paris é assim, sempre surpreendendo, um cenário de arquiteturas vivas, de todos os estilos e períodos, expressando sua carga simbólica de alta consistência, convivendo em harmonia.
Adriana Dantas desenhando Les Halles, out 2016 |
Sketch Les Halles, aquarela A4 duplo, out 2016 |
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