Um tanto
sumido no blog, segue mais um texto. Tentarei escrever com mais frequência.
Eu gosto de
feiras. São acontecimentos momentâneos, de meio dia, onde a rua torna-se um
mercado, um ambiente de corredores, labirintos, tendas, papéis sulfites
pendurados em barbantes com preços, com ritmos variados, cores, sons, cheiros,
frutas, legumes, peixes, carnes, pombos, cachorros, pessoas. O sentimento de
dever cumprido depois de um café da manhã com pastel de carne e caldo de cana
regado à limão, naquele domingo preguiçoso é de extrema satisfação. Gosto de
observar a movimentação na feira. Os vendedores quase dançam e cantam, os
frequentadores, caminham, param e olham, caminham, param e olham. Quando a
feira acaba, o ritmo muda, as pessoas somem, e a rua é tomada por veículos.
Ali no
bairro do Campo Belo, em todos os domingos tem uma feira de rua, destas bem
tradicionais, parecida com a descrita no parágrafo acima. Por questões
familiares, ali também estou em todos os domingos. Noutro dia enquanto
caminhava por lá, reparei em coisas novas. As bordas da feira são basicamente
estruturadas por belos caminhões. São eles que trazem os produtos e todos os
aparatos de montagem das barracas. E são eles que fecham as ruas para que as
pessoas possam circular livremente por estas áreas nestes breves períodos.
Enquanto observava um caminhão vermelho, recordei-me de sketchers que realizam de
maneira espetacular o desenho de automóveis, como o Flávio Ricardo. Resolvi me
arriscar. As ruas ficam tranquilas, dá pra sentar na calçada com um caderno sem
muitas preocupações. Fiz uns quatro desenhos em mais ou menos um mês, de
domingo em domingo.
Não me
recordo à qual produto o caminhão vermelho se destinava. Me sentei na sarjeta e
encostei as costas em um poste. Um senhor se aproximou, olhou, me abriu um
sorriso e caminhou. Uma mulher com seu cão na coleira e carrinho com verduras
também se aproximou e começou a puxar papo. Seu cão fez xixi no poste e quase
causou um estrago na minha mochila. Gosto de cachorros e levei no bom humor,
faz parte. Um morador de rua, descalço e de braço quebrado, pedia ajuda aos que
iam e vinham. Precisava de um remédio para dor. Um frequentador lhe disse
alguma besteira, entrou em seu carro e foi embora. O morador de rua ficou
nervoso e atordoado, falou palavras ao vento, e saiu a caminhar para outro
rumo. Acabei o desenho neste meio tempo.
Este é o
caminhão de verduras. Fiquei bem perto para treinar a perspectiva. O dono do
caminhão chegou e, simpático, disse-me para ficar à vontade. Seu filho veio
correndo e ofegante logo depois. O garoto devia ter uns 9 anos. Sentou ao meu
lado e me encheu de perguntas. Pegou uma folha do caderno e ficou testando as
canetas de meu estojo. Ficou uma hora conversando, às vezes falava sozinho, e
depois se interessou por um carro alheio ali ao lado e ficou mexendo em seus
pára brisas. Saiu correndo sem antes pedir para depois passar na barraca de sua
família para lhe mostrar o resultado final. Outras crianças que ajudavam os
feirantes a carregar seus produtos de volta aos caminhões e pediam uns trocados
aos clientes, por vezes também sentavam ao meu lado e conversavam. Um menino me
ofereceu um pouco de seu pastel. Já era fim de feira, e fui mostrar o resultado
final ao curioso garoto da barraca de verduras. Lá chegando, estava ele
colhendo um imenso pedaço de salsinha e girando aquela folha no ar como um
caubói. Moleque muito bacana, não tem como não gostar. Conversamos um pouco
mais e cada um seguiu seu caminho.
Se não me
engano este caminhão é de verduras e legumes. Fiquei novamente bem perto para
treinar a perspectiva. Achei meio difícil por conter bordas bem arredondadas, o
que dificultou na hora de encontrar as proporções corretas e puxar as linhas
aos seus pontos de fuga. Um garoto, filho do dono do veículo apareceu. Um pouco
mais velho que a criança da descrição anterior, devia ter uns 12 anos, mais
tímido, porém tão curioso quanto. Por vezes, saía em disparada para ajudar sua
família na feira, e voltava na mesma velocidade para observar o desenrolar do
desenho. Um motoboy que trabalha no restaurante japonês logo ao lado, foi comer
um pastel na feira e na volta parou para conversar. Falou de como também gosta
de desenhar e tem uma filha pequena. É bonito como esta nossa atividade de sketchers
de rua nos faz sermos abertos à cidade.
Este, e
último desenho, é o caminhão do vendedor de queijos, que fiz ontem pela manhã. O
dono, senhor educado e de bom humor, veio sarcasticamente me perguntar se o
estava multando. Como neste caso o veículo está junto da barraca, pude observar
o trabalho do pessoal. Funcionário explicavam para cada cliente as
características de cada queijo com atenção, e ocasionalmente vinham conversar
comigo. O dia estava agradável, nem quente nem frio, e um céu belamente azul.
Errei na perspectiva, mas não me importei. Um rapaz encostou sua bicicleta na
árvore logo a frente para ajudar o pessoal a iniciar o processo de desmontagem
da feira, colocando os materiais de volta nos caminhões. Perguntou se não
queria colocar sua bike no desenho. Tentei, ficou um borrão, mas ele ficou
agradecido.
A feira é um
festival de oportunidades. Para vendedores, compradores e sketchers.
Abraços!
Sensacional, Kei! :D
ResponderExcluir#porrakei pra manter a tradição.
Razô!
Muito bons seus sketches
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