Numa palestra do Eduardo Salavisa (especialista e autor de vários livros sobre o tema) se discutiu sobre as funções de um diário gráfico, entre elas a provocadora afirmação de que não serviria para "nada". Fazer diários gráficos é um experiência recente, comecei a apenas duas viagens. A primeira em 2013 (Londres, Budapeste, Viena e Praga) e mais recentemente para Portugal (Lisboa e Torres Vedras).
Estimulado por esta provocação, decidi pensar sobre as funções possíveis de um diário gráfico e para isto usarei de maneira bastante informal as tradicionais categorias da função da linguagem para estruturar meus devaneios. Já aviso aos acadêmicos mais rigorosos que isto é uma tentativa pública e informal de explicar algo que ainda estou tentando entender e teria, portanto, apenas uma função exploratória.
Abaixo você lerá a primeira parte do texto, se você quiser ler a segunda parte visite Parte 2.
Abaixo você lerá a primeira parte do texto, se você quiser ler a segunda parte visite Parte 2.
Serve para documentar
Vamos começar pelo mais fácil de explicar e entender: um diário gráfico teria uma função documental com caráter denotativo, ou seja, buscaríamos registrar da maneira mais crível possível aquilo que vimos e experimentamos. Sua função adquire um tom de reportagem gráfica com o desejo de facilitar uma interpretação do que foi desenhado. Registramos respostas para algumas perguntas como:
- Quais lugares eu visitei?
- Quem eu conheci?
- O que comi e bebi?
Onde eu estive? Mapas, adesivos, setas tentam comunicar onde ficamos em Portugal, ou seja, no Bairro da Alfama. |
O que eu vejo quando espero pelo meu avião que me levaria para Portugal? Terminal internacional do Aeroporto Viracopos em Campinas, São Paulo. |
Quem dormia (e quase babava) durante a viagem de volta a Curitiba? Voo da Gol "Linhas Aéreas Inteligentes". |
Serve para se expressar
Quase como uma oposição ao tom documental, surge a função expressiva, a qual foge da "neutralidade" do registro de uma circunstância. Buscamos um registro gráfico daquilo que estávamos "sentindo" durante o processo de observação (alegria, satisfação, alívio, solidão, saudade, etc). Na função expressiva ocorreria uma conversa do desenhista com ele mesmo, onde comentários textuais e gráficos adquirem uma dimensão de introspecção, por vezes tão densa que provavelmente o leitor não decifrará uma mensagem coerentemente, somente o autor teria a chave para compreendê-la. A busca para algumas achar respostas para as perguntas abaixo motiva o desenho.
- O que eu estou sentido neste momento?
- Eu estou gostando deste lugar?
- Minha linguagem gráfica registra a alegria e emoção que estou sentindo enquanto faço este desenho?
Serve para fazer poesia
Se levarmos a abordagem expressiva às suas últimas circunstâncias daríamos uma função plenamente poética para nossos registros. As páginas do diário gráfico se transformariam numa busca de especulações, experimentos e da intensificação da força expressiva dos materiais empregados, não importando necessariamente o que estaria diante do observador.
As "respostas" advindas desta poética aventuram-se nos limites expressivos da linguagem e material gráfico empregado. Assim, o diário se torna um repositório de experimentações poéticas onde o objetivo é gerar surpresas gráficas e prazer estético para o desenhista bem como para o leitor. Neste caso aquilo que se vê é apenas uma desculpa para gerar um desenho bonito e estimulante visualmente. Algumas perguntas criativas:
- Como eu faço para aplicar harmonias de cores monocromáticas?
- Vou usar várias texturas de papel, será que o resultado ficará bonito?
- Comprei este material de desenho, quais linhas e texturas poderei gerar com ele?
Um poesia gráfica onde cacos de papel brotam do pincel da colega portuguesa Teresa Ogando, sentada no chão de uma Praça de Torres Vedras. |
As funções apelativa e metalinguística vou deixar para uma próxima postagem.
Neste ínterim, aguardo reações dos leitores.
É bem isso aí mesmo! Viva o Diário gráfico! Como é bom de vez em quando abrirmos os nossos diários gráficos de viagem e lembrar de tudo ali que esta documentado.Serve muito!!
ResponderExcluirsuper bacana...andei experimentando também.
ResponderExcluirJosé Marconi, a postagem está realmente fantásrtica! Muito madura e didática. Aprazível esteticamente... e em um tamanho ideal para um blog. Muitas postagens em blogs e redes sociais de Desenho de Rua [USk, Croquis Urbanos, etc] "mostram"... e, aparentemente, poucas postagens nos dizem "o porque se mostra". Nesse sentido, fica claro, que também é muito importante o registro, de modo gráfico, dos acontecimentos, das emoções, das vistas, das ambiências, atmosferas, sons, gostos, cheiros, e que nos fazem rememorar fatos vividos e/ou passar emoções para a interpretação de outrem. Parabéns!
ResponderExcluirGostei do que vi e li. E aquele seu desenho em que me encontro representada, remete-me imediatamente para a memória do desenho que eu fiz. É isso o diário gráfico : ajudar a preservar as memórias, e quase também o estado do tempo, os cheiros e os sabores.
ResponderExcluirOpa...Professor Marconi!!!! Digo que tive a grande honra de tê-lo em minha oficina: sua disposição, e sensibilidade em se deixar levar por esta pesquisa são pontos que me deixam honrado por sua presença ativa e participativa - deixando de lado tabus (colagem X desenho)... e aí está: brincou com muita sabedoria e propriedade com estas técnicas, que acabaram por conversar muito bem neste teu trabalho (que hj é a foto do meu perfil do fb). Sei que a colagem, como modo de contar o dia a dia do viajante, é interessante demais, mas, usado neste universo de composição, é fantástico!!!Obrigado pela oportunidade e até breve! Forte abraço.
ResponderExcluirOpa...Professor Marconi!!!! Digo que tive a grande honra de tê-lo em minha oficina: sua disposição, e sensibilidade em se deixar levar por esta pesquisa são pontos que me deixam honrado por sua presença ativa e participativa - deixando de lado tabus (colagem X desenho)... e aí está: brincou com muita sabedoria e propriedade com estas técnicas, que acabaram por conversar muito bem neste teu trabalho (que hj é a foto do meu perfil do fb). Sei que a colagem, como modo de contar o dia a dia do viajante, é interessante demais, mas, usado neste universo de composição, é fantástico!!!Obrigado pela oportunidade e até breve! Forte abraço.
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ResponderExcluirOpa...Professor Marconi!!!! Digo que tive a grande honra de tê-lo em minha oficina: sua disposição, e sensibilidade em se deixar levar por esta pesquisa são pontos que me deixam honrado por sua presença ativa e participativa - deixando de lado tabus (colagem X desenho)... e aí está: brincou com muita sabedoria e propriedade com estas técnicas, que acabaram por conversar muito bem neste teu trabalho (que hj é a foto do meu perfil do fb). Sei que a colagem, como modo de contar o dia a dia do viajante, é interessante demais, mas, usado neste universo de composição, é fantástico!!!Obrigado pela oportunidade e até breve! Forte abraço.
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