Eu e minha companheira Eunádia aproveitamos a última semana
de férias do meio do ano de 2016 para fazermos uma viagem seguindo a rota da BR
101, rodovia que interliga vários estados do nordeste brasileiro. O foco da
viagem foi a realização de registros em alguns núcleos urbanos da Paraíba e
Pernambuco que representam em sua estrutura urbana, algumas características
morfológicas / tipológicas das cidades coloniais brasileiras. Com esse intuito visitamos as cidades de Cabedelo, na
Paraíba, e Goiana e Igarassu, em Pernambuco. Os registros que se seguem dão
conta desta primeira parte da viagem.
Em Cabedelo fomos especificamente visitar a Fortaleza de
Santa Catarina, um belo exemplar de arquitetura militar portuguesa que faz
parte do conjunto de fortes que foram construídos para defendera costa
brasileira de possíveis ataques de “estrangeiros”. A sensação negativa que se
tem ao chegar ao edifício – devido a interferência que ocorre na paisagem,
causada pela presença muito próxima de uma área de tancagem do Porto da cidade
em relação ao bem tombado em nível federal, é amenizada quando adentramos o
conjunto d fortificação. O que podemos observar e uma sucessão de edifícios que
se complementam (capela, alojamentos, casa do Capitão-mor...), articulados por
uma generosa área de pátio, todos circuncidados pela muralha propriamente dita.
Salienta-se também o uso adequado dos materiais (notadamente as aparelhagens em
pedra) que dão ao conjunto uma tectônica peculiar.
Seguindo o trajeto pela BR-101, entramos na cidade de Goiana,
em Pernambuco. Em seu centro histórico, tombado em nível federal, pudemos
observar uma das principais características dos sítios históricos coloniais
brasileiros: os espaços religiosos como um dos principais elementos
estruturadores do espaço urbano. A cidade é plana e as ruas são geralmente
largas. Por estas ruas conseguimos fazer um percurso em que identificamos
articulações entre boa parte dos templos religiosos católicos. Notamos também
que a maioria das igrejas não são dotadas de lardos à sua frente (das que
visitamos, excetuamos apenas o conjunto carmelita).
Outro núcleo visitado com este intuito foi o da cidade de
Igarassu, também em Pernambuco. Neste, passamos menos tempo (já estávamos em
processo de retorno à Natal). Em Igarassu, a presença da arquitetura religiosa
também é forte, porém com algumas diferenciações com relação ao que vimos em
Goiana: observamos a presença marcante da ocupação dos elementos estruturadores
do espaço urbano em um elevado (duas igrejas e a casa de câmara e cadeia em
especial), com o conjunto religioso da ordem franciscana aparecendo ao fundo do
morro. Ao lado pode-se apreciar uma vista interessante do resquício de mata atlântica.
Rodeando o morro, podemos observar a presença de mais duas
igrejas, e de interessantes visadas que possibilitam descortinar a relação
entre a arquitetura religiosa e o casario baixo e bem colorido. Estas visadas
foram exatamente os alvos dos registros realizados na cidade.
Essas visitas me instigaram cada vez mais a pensar em uma
atividade de formação que vise construir um quadro de registros de um conjunto
de núcleos coloniais espalhados por parte do nordeste brasileiro, incluindo,
além de Goiana e Igarassu, os sítios históricos de Natal, João Pessoa, Olinda,
Recife (na verdade, o bairro de Santo Antônio), indo até as Alagoas, para
incorporar os sítios históricos de Penedo e Marechal Deodoro. Tratarei de possibilitar
a realização desta atividade.
Mas ... a viagem não parou por ai.
Devo destacar de forma especial os três dias que passamos em
Recife, na companhia dos amigos Natália Miranda e Fábio Araújo, que nos
propiciaram passeios maravilhosos!
Primeiro fomos “dar uma volta” no bairro do Recife, para
mim, “parada obrigatória”. Fiz um registro do Marco Zero e do recém-“meio”-inaugurado
Cais do Sertão, projeto do escritório Brasil Arquitetura, que sempre trouxe
para seus projetos a boa influência do olhar “antropológico” de Lina Bo Bardi.
No “Cais” registrei um trecho do “Rio São Francisco”. Do Marco Zero trouxe a
lembrança de um belo por-do-sol.
No segundo dia no Recife, fomos ao parque de Jaqueira. O
objetivo era um pouco inusitado: quando ainda graduando na Universidade Federal
do Ceará, realizei pesquisas sobre a cidade de Icó, hoje reconhecida como
Patrimônio Nacional pelo IPHAN. Um dos documentos que mais me chamou atenção
foi um parecer elaborado pela arquiteta Cláudia Girão Barroso - à época arquiteta
do IPHAN-RJ – através do qual foi empreendida uma análise acerca do referido
núcleo urbano, sob forma de percurso pela cidade. Em um dos trechos do
documento, a arquiteta se reporta à tipologia de uma das igrejas (a famosa
igrejinha de Nossa Senhora do Monte), traçando um paralelo com a tipologia da
capela do Parque da Jaqueira, no Recife. Esta informação sempre me chamou a
atenção, porém ainda não tinha ido conferir in
loco, o que veio ocorrer agora, quase 25 anos depois!
E, finalmente ... fechamos o ciclo de visitas de uma forma
bem interessante: há tempos que falava para a amiga Natália que sempre me
chamou atenção no Recife, a presença de pequenos conjuntos espalhados pela cidade,
que mesmo sem conhecer muito, me passavam uma ideia de espaços pitorescos,
pequenas “ilhas” localizadas no caos da metrópole. Desta vez, Natália nos levou
a três desses espaços: o Poço da Panela, Apipucos e o Largo de Santa Cruz, na
Boa Vista.
Fica claro que cada um desses espaços tem as suas
particularidades. No entanto, para mim ficou cada vez mais nítido essa ideia
que cada um destes espaços guarda sua atmosfera de espaços pitorescos. Em Santa
Cruz e no Poço da Panela, meus registros foram realizados em mesas de bar (Bar
Santa Cruz e Bar do seu Vital). Em Apipucos, a vegetação impões sua marca e sua
força na paisagem, criando um microclima que nos seduziu.
Não posso deixar de dedicar esta pequena narrativa aos
amigos – DE SEMPRE – Natália Vieira e Fábio Araújo.
Olá Clewton, já fiz alguns tímidos registros da Fortaleza de Santa Catarina e se quiser companhia nas próximas visitas em João Pessoa e redondezas pode contar comigo. Será um prazer fazer registros ao lado de um sketcher tão experiente como você. Abraço.
ResponderExcluirValeu Elio. Quando estiver em Jampa na próxima te procurarei.
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