Segunda parte de minha tentativa de responder a provocação do do Eduardo Salavisa (especialista e autor de vários livros sobre o tema) sobre as funções de um diário gráfico.
O texto a seguir é uma
tentativa pública e informal de explicar algo que ainda estou tentando entender
e teria, portanto, apenas uma função exploratória quase especulativa. As tradicionais categorias da função da
linguagem como a poética, documental, expressiva já foram discutidas na Parte1, agora ilustramos as que restam: metalinguística e apelativa.
Serve para comentar visualmente os desenhos em si
Uma composição formada
por elementos gráficos que explicam-comentam-expandem-complementam-dialogam a
obra em em si constitui um desenho "metalínguistico", pois a
"metalinguagem" pode ser definida como o uso da linguagem para
descrever aspectos da própria linguagem que está sendo utilizada. A linguagem
metalinguística faz enunciados sobre a própria linguagem, ou seja, qualquer
livro que ensina a desenhar usando desenhos para explicar como fazê-lo é um
livro metalíngustico.
No caso do diário
gráfico esta abordagem serve para responder as seguintes possíveis perguntas:
- Que recurso gráfico eu uso para "chamar" a atenção desta parte do desenho?
- Qual detalhe do desenho eu desejo ampliar de modo a "explica-lo" melhor?
- Vou encaixar um texto "dentro" deste desenho para explicar algum detalhe?
- Será que se eu usar uma foto ela "dialogará" com o desenho?
Página onde o desenho
representa o próprio desenhista desenhando.
O desenho registra o próprio ato de desenhar, ou seja, é metalínguistico por natureza. Aeroporto Viracopos em Campinas, Brasil, 2015. |
Serve para sugerir, instruir ou influenciar o leitor
Um desenho que tenta
convencer o leitor a fazer algo, persuadi-lo a pensar diferente, ensina algo ou
contribui para formação de opinião sobre um determinado tema, é uma desenho com
função "apelativa". O objetivo é influenciar o leitor do diário,
convencê-lo de algo ou dar instruções em tom imperativo.
Frequentemente o
diário gráfico registra as boas decisões tomadas durante a viagem e o desenho
se transforma numa celebração gráfica da decisão. Criam-se desenhos mostrando
um museu e coloca-se o comentário na forma imperativa: "vale a pena
retornar aqui!". Por outro lado,
decepções também são registradas e se transformam em tentativas de deixar
"advertências" para o leitor.
Frequentemente usamos o diário como um arquivo de impressões sobre um
lugar, o qual consultaremos para saber, por exemplo,o nome daquele hotel
"maravilhoso" ou daquele restaurante ruim. Nestas páginas temos o uso de superlativos
gráficos.
Algumas das perguntas
possíveis:
- Como eu faço para chegar a um determinado lugar?
- Como eu registro que este lugar, comida ou contexto é muito bom ou ruim?
- Quais os horários de funcionamento de um determinado serviço?
- Como convencer o leitor a fazer ou desistir de algo que julgamos importante?
Aviso: evite a comida
vendida no trem; além de caríssima é horrível no sabor. De Viena para Praga,
2013.
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Conclusão
Concluo esta
contribuição dizendo que as possibilidades de expressão poética, documental,
expressiva, metalinguística e apelativa
são apenas uma das maneiras possíveis de explorar conceitualmente as funções de
um diário gráfico. Outra coisa que não
podemos perder de vista é que uma composição gráfica pode simultaneamente dar
várias respostas a várias perguntas, portanto, cabe ao leitor escolher o que
ele deseja resgatar de um diário gráfico.
Para que serve um
diário gráfico?
Para navegar
graficamente a vida, pois, como dizia o poeta, isto é preciso.
Epílogo
Abaixo, video resumo de nosso diário gráfico da viagem a Portugal. Nesta oportunidade participamos do Encontro Internacional de Desenho de Rua em Torres Vedras. O video é dedicado aos companheiros de viagem e aos que lá encontramos. Também é dedicado aos demais colegas do grupo Croquis Urbanos Curitiba que ficaram cuidando do nosso grupo. Música de Ana Moura "Águas Passadas".
A ilustração que aparece num papel colado no minuto 2.01 é de autoria de Daniel Silvestre.
A ilustração que aparece num papel colado no minuto 2.01 é de autoria de Daniel Silvestre.
Muito bom! Você verbaliza muito bem as ações e imagens contidas nesse processo!
ResponderExcluirSempre muito criativo: aulas maravilhosas, professor Marconi!Um grande abraço de Paraty!
ResponderExcluirIsso é uma aula fantástica! É um privilégio se deleitar e aprender com esses desenhos e reflexões.
ResponderExcluirPura paixão pelo que faz!!! Parabéns Marconi!